
Hoje me dei conta de algumas coisas das quais gosto e não me lembbrava mais... lembrei que gosto das gotas da chuva que caem pelas frestas do telhado e atingem meu rosto de leve, gosto da luz do sol, gosto do frio da noite, gosto de ficar sozinha, mas só as vezes... amo meus amigos, mesmo quando não me sinto amada por eles, lembro de cada um deles, mesmo quando acho que não lembram mais de mim e as vezes sofro por isso, mas foram tantos momentos bons vividos ao lado deles que a dor, uma hora passa.
As festas se aproximam e, pra mim, essas datas nunca significaram nada, no máximo, vazio existencial, seguido de depressão e muito choro... nada de comemoração! Esse ano essas festas são ainda mais vazias e certamente estarei sozinha durante elas, mas acho que a dor, a depressão e o choro não virão, porque dessa vez não me sinto triste, simplesmente não sinto nada. A velha árvore de Natal que precisava ser substituída, continua lá, em cima do guarda-roupa, cheia de poeira, assim como a caixa de sapatos cheia de enfeites empoeirados verdes e vermelhos.
Nas lojas, não me dou conta dos enfeites, nem tão pouco das sessões sucessivas dedicadas a enfeites natalinos à venda para todos os bolsos e gostos. No momento, em mim, tudo é um grande vazio, uma grande incógnita... o bazar tem vendido, um pouco aqui, outro ali, mas as pequenas coisinhas de casa que faltam no dia-a-dia consomem o pouco que entra.
Olho os armários quase vazios, a geladeira que mais parece um coco (só tem água), e uma casa inteira pra cuidar, então passo a odiar meu dia, desde que amanhece até o anoitecer quando, sob efeito de um ansiolítico, eu adormeço entre insatisfação e lágrimas.
Ainda não é a minha casa, com as minhas coisinhas, não é meu armário ou minha geladeira vazia; varro, arrumo e limpo uma casa que não é minha e me sinto um monstro quando distrato o único anjo que me suporta de verdade, mas é difícil esconder a frustração, a insatisfação, a expectativa não realizada, uma espera infinda... tudo no tempo de Deus e não no meu... "paciência filha, paciência", Ele me pede, "eu tento Pai, eu tento", respondo eu, enquanto as lágrimas caem...
Hoje não há uma moeda na caixinha, meu filho foi de ônibus e voltou da escola a pé, último dia de aula (graças a Deus), o gás acabou, ninguém entrou no bazar e tudo que eu queria era sair andando sem rumo pra, quem sabe, talvez, me reencontrar em alguma esquina, em um olhar indiferente de um transeunte qualquer na rua... mas abro o portão pra minha filha na volta da escola, coloco na mesa alguma coisa que inventei para o almoço, vejo meu filho sair pra escola, dou banho na pequena e depois tomo o meu, me deito e peço a Deus que me faça dormir muuuuuuito, mas as vezes a pequena não dorme, então o dia passa ainda mais lento e modorrento e odeio tudo com ainda mais fervor.
Todos os dias procuro emprego, tento me enganar, me convencer que posso, que já tenho condições pra isso, mas sei que não, talvez por isso ninguém me chame sequer pra uma entrevista, acho que meu curriculo já vai com um aviso subliminar "é furada, chama não"...
Então tento não pensar como será pra pagar as contas, pra pôr comida na mesa, talvés fazer diária, fazer pnafletagem, lavar e passar roupa pra fora, vender docinhos nas bodegas do bairro... qualquer coisa, desde que eu possa viver A MINHA VIDA... com todas as conseqüências que escolha me traz... apenas viver!
Teço minha vida aos poucos, muito aos poucos, como o tapete de juta com fitinhas coloridas amarradas em cada trama, um tapete que jurei que teria em minha sala, no dia em que tivesse a minha casa, um tapete feito por mim, fita a fita, todo colorido, cheio de almofadas em cima deles, onde vou me deitar nos momentos de não fazer nada, nem mesmo de pensar...